Entity Component System (ECS)
O sistema de gerenciamento de dados da Bevy é chamado de Entity Component System, ou ECS, e sua principal característica é a simplicidade do gerenciamento de dados. Uma boa analogia ao seu funcionamento é com bancos de dados tabulares, na qual os componentes, components, são os tipos de dados, ou colunas, e as entidades, entities, são as linhas, mais especificamente o ID das linhas. Por exemplo, você poderia ter diversas entidades com o componente Health
e cada entidade possui um component Health
diferente, já que NPCs, players e objetos do mundo podem ter Health
s diferentes (health significa vida em inglês). Assim, o conjunto de componentes que uma entidade possui é chamado de arquétipo, Archetype.
Considerando a entidade player possuindo componentes como vida, força, ataque, defesa, inventario, as entidades inimigos com vida, força, ataque, defesa, inteligência, e a entidade planta com apenas vida, fica muito fácil escrever uma lógica de jogo que gerencia esses tipos de entidades, como verificar se uma entidade com vida encontrou outra entidade com vida, simplificando muito a criação de lógicas de jogo. Essa lógica de gerenciamento é chamado sistema, system. Estes sistemas são executados em paralelo pelo smart scheduling algorithm da Bevy e com isso devemos manter nossas entidades o mais horizontal possível, evitando grandes componentes com muitos campos. Isso influência muito a performance do sistema, pois quando mais vertical a entidade mais problemas de acesso aos dados em paralelo teremos.
Para você que vem da orientação a objectos, no paradigma de ECS é mais comum possuir uma entidade com diversos componentes, como a entidade Player que possui os componentes Vida(u32), Posição(x, y, z), Direção(x, y, z), Escala(x, y, z), Rotação(x, y, z), Defesa(u16), Ataque(u16), Força(u16) em vez de uma classe
Player
com os campos vida: u32, posição: [x, y, z], direção: [x, y, z], escala: [x, y, z], rotação: [x, y, z], defesa: u16, ataque: u16, força: u16:
#![allow(unused)] fn main() { // Prefira isso: // Entidade Player; #[derive(Component)] pub struct Vida(u32) #[derive(Component)] pub struct Posição(x, y, z) #[derive(Component)] pub struct Direção(x, y, z) #[derive(Component)] pub struct Escala(x, y, z) #[derive(Component)] pub struct Rotação(x, y, z) #[derive(Component)] pub struct Defesa(u16) #[derive(Component)] pub struct Ataque(u16) #[derive(Component)] pub struct Força(u16) // Em vez disso: pub struct Player { pub vida: u32, pub posição: [x, y, z], pub direção: [x, y, z], pub escala: [x, y, z], pub rotação: [x, y, z], pub defesa: u16, pub ataque: u16, pub força: u16, } }
Criando entidades
Entidades são simplesmente IDs inteiros associados a um comando spawn
de commands
, commands.spawn(...)
e para adicionar componentes basta utilizarmos a diretica insert
em um spawn
:
#![allow(unused)] fn main() { fn spawn_entity(mut commands: Commands) { commands .spawn() .insert(Label("Player")) .insert(Vida(10)) .insert(Posição(0, 2, 0)) .insert(Direção(0, 2, 0)) .insert(Escala(0, 2, 0)) .insert(Rotação(0, 2, 0)) .insert(Defesa(10)) .insert(Ataque(10)) .insert(Força(10)); } }
Além disso, existe o conceito de bundles. Bundles são como templates que tornam a criação de entidades com diversos componentes mais simples:
#![allow(unused)] fn main() { #[derive(Bundle)] struct Transform { posição: Posição(x, y, z), direção: Direção(x, y, z), escala: Escala(x, y, z), rotação: Rotação(x, y, z), } #[derive(Bundle)] struct Player { vida: u32, defesa: u16, ataque: u16, força: u16, #[bundle] // Nested bundles transform: Transform } }
Como podemos ver em transform: Transform
, bundles também podem ser encadeados. Tuplas arbitrárias também são consideradas bundles. Note, que bundles não podem ser consultados com uma query.
Recursos (Resources)
Recursos são um tipo de instância que permite armazenar um tipo de dado de forma global, independente de entidades, e qualquer tipo Rust pode ser usado como um recurso independente de implementação de traits. Existem duas formas de inicializar recursos, a primeira é definindo a trait Default
para eles, quando eles possuem um tipo de dado simples, já a segunda é implementando a trait FromWorld
que permite atuar sobre o recurso utilizando valores de World
:
#![allow(unused)] fn main() { #[derive(Default)] struct StartingLevel(usize); struct MyFancyResource { /* stuff */ } impl FromWorld for MyFancyResource { fn from_world(world: &mut World) -> Self { // You have full access to anything in the ECS from here. // For instance, you can mutate other resources: let mut x = world.get_resource_mut::<MyOtherResource>().unwrap(); x.do_mut_stuff(); MyFancyResource { /* stuff */ } } } }
E para inicializar seus recursos em um App basta usar a função insert_resource
:
fn main() { App::new() // Caso implemente uma das traits `Default` ou `FromWorld` .init_resource::<MyFancyResource>() // se for necessário definir o valor inicial .insert_resource(StartingLevel(3)) // ... .run(); }
A decisão de quando usar recursos ou entity/component é baseada na forma e no momento em que este dado vai ser acessado, mas considerando algo como um jogo com uma unica entidade, pode ainda ser útil utilizar o padrão ECS, pois ele permite maior flexibildiade e compartilhamento de dados, que podem ser muito úteis para a evolução do jogo.
Sistemas (Systems)
Sistemas são funções que a desenvolvedora escreve com o objetivo de ser uma unidade de lógica do jogo atuando sobre as entidades e os componentes. Os sistemas são executados e gerenciados pelas Bevy, mas somente podem ser usados com parâmetros especiais. Os parâmetros especiais são:
Res/ResMut
para acessar recursos.Query
para acessar componentes de uma entidade.Commands
para criar e destruir entidades, componentes e recursos.EventWriter/EventReader
para enviar e receber eventos.
Um sistema pode conter no máximo 16 parâmetros, caso seja preciso mais parâmetros pode se agrega-los em tuplas de no máximo 16 parâmetros. Caso estes limites não sejam suficiente, é possível fazer tuplas de tuplas.
#![allow(unused)] fn main() { fn complex_system( (a, mut b): (Res<ResourceA>, ResMut<ResourceB>), mut c: Option<ResMut<ResourceC>>, ) { if let Some(mut c) = c { // lógica } } }
No sistema a cima ResourceA
é um recurso imutável e esta compartilhando uma tupla com ResourceB
que é um recurso mutável. Já ResourceC
é um recurso que pode não existir e por isso está englobado por um tipo Optional<T>
.
Existem dois tipos de funções para executar sistemas na Bevy
fn main() { App::new() // ... // sistemas executados apenas quando o App é lançado .add_startup_system(init_menu) .add_startup_system(debug_start) // sistemas executados todos os frames .add_system(move_player) .add_system(enemies_ai) // ... .run(); }
Agora vamos começar a implementar nosso snake game e aprofundar nossos conhecimentos em bevy.
Referência: unofficial bevy guide